Data de lançamento 7 de janeiro de 2016 (2h 48min)
Direção: Quentin Tarantino
Nacionalidade Eua
SINOPSE E DETALHES
Durante uma nevasca, o carrasco John Ruth (Kurt Russell) está transportando uma prisioneira, a famosa Daisy Domergue (Jennifer Jason Leigh), que ele espera trocar por grande quantia de dinheiro. No caminho, os viajantes aceitam transportar o caçador de recompensas Marquis Warren (Samuel L. Jackson), que está de olho em outro tesouro, e o xerife Chris Mannix (Walton Goggins), prestes a ser empossado em sua cidade. Como as condições climáticas pioram, eles buscam abrigo no Armazém da Minnie, onde quatro outros desconhecidos estão abrigados. Aos poucos, os oito viajantes no local começam a descobrir os segredos sangrentos uns dos outros, levando a um inevitável confronto entre eles.
Título original The Hateful Eight
Distribuidor Diamond Films
TRAILER 1
TRAILER 2
4,0Muito bom
Um mexicano, um inglês, um xerife e um negro entram em um bar. Isto poderia ser o início de uma piada, mas é a premissa do oitavo filme de Quentin Tarantino, que enclausura oito tipos sociais muito precisos dentro de um pequeno armazém para assisti-los se digladiarem. O mecanismo perverso poderia soar artificial, mas funciona porque nenhum dos personagens possui mais voz do que o outro, e nenhum corresponde ao ideal do herói – como era o ex-escravo de Django Livre. O espectador observa o ringue à distância, sem ter para quem torcer.
O filme sofre uma transformação brutal e excelente com a entrada do próprio Tarantino, que além de ser diretor e roteirista, também faz as vezes de narrador, comentando as numerosas reviravoltas. Ao longo de sua filmografia, o cineasta desenvolveu uma persona tão talentosa quanto histriônica, sempre a um passo de canibalizar as próprias histórias. Neste caso, ele se introduz na trama, faz citações às suas obras (partes do clímax constituem referências diretas a Bastardos Inglórios e Cães de Aluguel), utiliza seus atores-fetiche de modo a espelhar os papéis deles em filmes anteriores do autor. É inegável que Tarantino vem construindo um universo cinematográfico homogêneo e de alta qualidade, mas um tanto egocêntrico.
Depois que todos os protagonistas se fecham no Armazém da Minnie, a narrativa manifesta uma ousadia impressionante. Ao invés de seguir os moldes clássicos de Django Livre, o diretor cria uma obra de forma voluntariamente plural, apostando nas reviravoltas, nos excessos, nos flashbacks, na montagem paralela e em diversos outros recursos. A divertida reunião dos odiados traz toda a cota de sangue que se espera do grupo e do diretor, com direito a comentários sociais afiados a respeito da posição social das mulheres, dos negros, dos imigrantes e de outras minorias.
O desconforto provocado pelo choque entre a amplitude da imagem e o minimalismo da narrativa contribui a gerar o aspecto de terror, que talvez seja o gênero principal deste projeto. Rumo à conclusão, a obra abandona as ferramentas do faroeste para mexer com os nervos do espectador e manipular seus personagens de um modo que apenas o cinema de horror mais sanguinário costuma fazer. Neste aspecto, Os Oito Odiados estabelece um paralelo com outro projeto de exploitation do cineasta, o ótimo À Prova de Morte. A trilha de Ennio Morricone, curiosamente criada antes de o compositor ver uma imagem sequer, reforça a aparência de terror, com o tema tenso, em cordas, se intensificando rumo ao clímax catártico.
No que diz respeito à estética, Tarantino continua mestre da diversidade de linguagens cinematográficas. É impressionante como ele consegue dominar as regras do cinema clássico – especialmente na primeira metade, com as cenas na nevasca –, subvertendo-as na metade final com os recursos mais anárquicos do cinema de gênero. O dinamismo dentro do armazém é impressionante, assim como o controle das atuações, todas homogêneas e eficazes. O cineasta sabe extrair o melhor de Samuel L. Jackson e Kurt Russell, além de pedir a Jennifer Jason Leigh e Tim Roth para fazerem tipos excessivos, algo que ambos executam com um prazer manifesto.
Mas Tarantino permanece um exímio manipulador de sensações, entregando reviravoltas que não tinha prometido, frustrando aquelas que se esperava, voltando em questões que pareciam desimportantes, mentindo descaradamente para o espectador sobre alguns aspectos. Os Oito Odiados pode não ser o projeto mais coeso, nem o mais criativo do cineasta, mas revela um autor de 52 anos que filma com a jovialidade e irreverência de um adolescente, transparecendo um prazer imenso em brincar com o público, com a câmera, com os personagens. Enquanto demonstrar tamanha disposição para combinar e transformar gêneros, extrapolar regras e códigos de boas maneiras do cinema, seus filmes serão sempre muito prazerosos de assistir.
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